
Antônio é um dos três santos celebrados nacionalmente nas tradições religiosas e culturais do período junino.
Na região do Pólo de Munim, caracterizada por uma grande quantidade de morros, paisagens de mata nativa, vegetações distintas de babaçus, juçaras e buritizais, uma comunidade mantém viva a tradição de celebrar o santo com um ritual afrobrasileiro muito específico: o Festejo de Nambuaçu de Baixo, que inicia no dia 1° de junho, comunidade quilombola na zona rural da cidade de Rosário (MA).
O festejo dura 16 dias, com programação que inclui ladainhas, missas, apresentações culturais, rituais, com destaque para a dança do péla-porco (ou dança do Lelé). Dona Carmelita Gomes Lima lidera a organização do festejo há 45 anos e explica como tudo começou.
“Essa festa é uma promessa dos mais antigos, que foram deixando de geração a geração e começou numa outra comunidade, a Vista Alegre. A última família que sustentava o festejo mudou para Nambuaçu de Baixo e levaram junto a imagem do Santo Antônio, que hoje é o padroeiro de nossa comunidade”, explicou Carmelita.
Ela conta ainda que o festejo não era mais realizado e que um tio foi quem resgatou a memória do rito.
“E foi ele que ensinou pra mim e mais 6 pessoas como que tinha que ser feito. Hoje, sou eu que ainda mantenho o festejo e incentivo a comunidade para gente não perder essa tradição, sobretudo com os mais jovens”, reforçou.
Tradição afrobrasileira
Um dos pontos altos do festejo é o cortejo da comunidade para colher na mata as murtas que servem de enfeite para o mastro de Santo Antônio, no primeiro dia da programação. A atividade envolve toda a comunidade, principalmente as gerações mais novas, fazendo com que a tradição se perpetue.
No cortejo, a imagem de Santo Antônio é levada nos braços por uma mulher da comunidade envolta com um pano branco ou vermelho conduzindo as pessoas até o local onde será derrubado um tronco de árvore que servirá como mastro para o festejo. As cantigas narram o passo a passo da ação ritualística ao som do ritmo do péla-porco, um som cadenciado, que inclui também outros ritmos, como o coco.
As músicas remontam a tradição de música de trabalho na lavoura, de versos que falam dos vínculos das promessas, além de fazer memória a pessoas da comunidade e da fé no Santo Antônio. A colheita das murtas é acompanhada pelo batuque de caixas e alguns instrumentos de percussão. No local da mata onde é retirado o tronco, Carmelita acende uma vela reafirmando mais um ano de compromisso com o ritual e com o desejo de esperança da comunidade:
“Pedimos paz, força, muita união e harmonia”.
O cortejo com o tronco e as murtas passeia por toda comunidade, de casa em casa,
para pedir esmolas e contribuições para a festa com bebidas ou outras
compensações. Com o mastro erguido e decorado em frente à Paróquia Nossa
Senhora do Rosário e São Benedito em Nambuaçu de Baixo, o festejo segue sua
programação diária com missas e ladainhas.
Outro ponto alto da festa é o encerramento, com a derrubada do mastro, programação cultural, que inclui radiola de reggae, comidas típicas, feijoada comunitária, brincadeiras e a tradicional apresentação da Dança do Péla-Porco.
O Péla-Porco
Pesquisadores definem a dança como uma tradição ibérica, com traços franceses típicos das danças de salão européias, muito comum na região do Munim. Não tem uma data fixada no calendário.
O nome é associado ao costume antigo de pessoas que se reuniam para matar galinhas e pelar porcos, o que garantia o alimento do dia posterior à festa. É uma dança rica em expressão coreográfica, cantos, dividida em quatros momentos principais – chorado, dança grande, talavera, cajueiro – e dançada pelos mais velhos, geralmente.
Com o acompanhamento de instrumentos como violão, cavaquinho (ou banjo),
pandeiro, castanholas, flauta (ou pífano) e rabeca, os brincantes, em pares, se
dispõem em filas de homens e mulheres, liderados por um mandante, pessoa
responsável pela coordenação da brincadeira. O primeiro par da fila é denominado
cabeceira de cima e o último, cabeceira de baixo, podendo ser o cabeceira de cima, também, o mandante.
Encantos naturais – Participar do festejo também é uma forma de explorar o polo
turístico da região do Munim. Localizado a 8 km do município de Rosário, o povoado
de Nambuaçu de Baixo é acessível pela estrada Carroçal.
Com casas construídas em alvenaria, o povoado está situado em uma área que
abriga a Cachoeira de Manelantônio. No dia 13 de maio, acontece o tradicional
Tambor de Preto Velho, e em junho, a comunidade celebra o Festejo de Santo
Antônio. O Bumba Meu Boi também integra as manifestações culturais locais.
O evento proporciona aos visitantes a chance de conhecer municípios vizinhos,
como Axixá, Icatu, Presidente Juscelino e Morros. A região se destaca por igrejas
de diferentes estilos arquitetônicos, casarões coloniais e um patrimônio cultural
expressivo, composto por ruínas antigas, cachoeiras, rios e riachos de águas
limpas, além de um litoral preservado.
O Festejo de Nambuaçu de Baixo é uma tradição que se renova a cada ano,
fortalecendo os laços entre gerações e preservando a memória e identidade do
povo maranhense.
Serviço
Festejo de Nambuaçu de Baixo
Período: 1º a 16 de junho de 2025
Local: Povoado Nambuaçu de Baixo, Rosário (MA)
Informações: @festejodenambuacu (Instagram)
Destaques da programação:
- 01/06: Salva de fogos, cortejo da murta e dança do pela porco
- 13/06: Missa de Santo Antônio
- 16/06: Encerramento com procissão, derrubada do mastro e feijoada coletiva
Contatos: Alberto Júnior – (98) 98283.1223 / Júlia Martins (98) 98873.2434 / Juliana
Gomes (98) 98229.4476